Nós somos os que foram

O Coletivo Aparecidos Políticos surgiu depois de presenciarem a chegada dos restos mortais do desaparecido político Bergson Gurjão Farias, após 37 anos do desaparecimento dele pela Ditadura Militar (1964-1985). A partir dessa data o grupo vem desenvolvendo intervenções urbanas, escraches, grafites, lambe-lambe e rádio livre na luta por memória, verdade e justiça.

Temos como proposta trabalhar numa relação entre a arte e política. Nos identificamos com as proposições da arte ativista e ativismo criativo:

Entendemos a arte enquanto um processo e uma convivência com um exercício da polêmica acerca das configurações da vida em sociedade, seus novos recortes e as novas regras que as sustentam. Entendemos a arte enquanto uma atividade política, observando que: “a resistência da obra não é o socorro que a arte presta à política. Ela não é a imitação ou antecipação da política pela arte, mas propriamente a identidade de ambas. A arte é política”. (Ranciere)

 

Assim nascemos:

Quase 40 anos depois e o peso do real no simbólico: Uma caixa, leitor, uma Caixa. Eu estava longe, mas via, como de perto, algo que se movia… Eu imaginava o quão quente era ali, depois de anos em terra úmida.

E, de repente, o real pesou: as Ossadas de uma pessoa.

Não queria ver, apesar de imaginar, o que estava ali na minha frente…Como será que estavam esses ossos nessa caixa? Ossos, que de tão fechados, mostravam um corpo cearense bem aberto..bem aberto como nossas veias, nossos olhos, nossas memórias.

Sim! Eu me lembro! Mesmo aos meus 25 anos que há 40 anos pessoas cairam por um ‘crime’…Eu me lembro e ainda escuto velhos carrancudos e bofejantes dizerem que ‘eles mereciam’; ‘era uma guerra’; ‘bando de…’

Sim…Como não lembrar disso? Como olhar pra aquela caixa e não escutar um barulho vazio e ensurdecedor?

Esse peso, essa caixa.

Então, eu estava perto, mas via como de longe, algo que se distanciava: Algo que fazia e faz, em um inquietante silêncio como daquela caixa, homens silenciarem em seus cargos públicos e em seus cômodos lares… Algo que sempre fez esses homens se esquivarem ao serem apontados: TORTURADORES!

A distância leva isso… Um peso que ainda sangra e cheira a corpo de gente vindo da terra…Um peso tão forte – que sempre retorna – chamado: Justiça e Memória!

 

 

 

 

 

 

 

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